A limpeza pública é uma atividade fundamental para a manutenção do Município. Em Guarapuava, a coleta de lixo é executada pela SURG (Companhia de Serviços de Urbanização de Guarapuava). A empresa atua em toda a zona urbana e rural da cidade, garantindo que cerca de 150 a 180 toneladas de lixo sejam recolhidos diariamente.
As atividades começam logo cedo. Os caminhões, que percorrem as ruas da cidade a uma velocidade entre cinco e dez quilômetros por hora, saem do pátio às 8h e retornam às 14h. Já o turno da noite começa às 18h e vai até a 1h da madrugada. Frequentemente, ambas equipes fazem horas extras devido à grande quantidade de lixo. Ao todo, 97 profissionais trabalham incansavelmente para garantir a limpeza das ruas e o bem-estar dos habitantes. Mas apesar de fundamental, o trabalho não é fácil. Além dos resíduos descartados de forma irregular, os ataques por cães são muito comuns entre os profissionais que trabalham na linha de frente da coleta
“Em primeiro lugar, sempre pensamos na saúde dos nossos funcionários que trabalham dia e noite para manter o município limpo. Devido ao grande número de acidentes, nós temos uma preocupação muito grande em fazer ações de educação ambiental para a população, lembrando sempre que os donos devem manter seus cães presos e com o portão fechado. Dessa maneira, podemos garantir que os funcionários possam fazer a coleta nas casas em segurança e sem preocupações”, sublinhou o presidente da SURG, Halmuth Brandtner.
Apesar do cão ser o melhor amigo do homem, ele nem sempre é amigável com os coletores de lixo. Segundo dados da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Empresas de Limpeza Pública e Urbana (Fenelimp), mais de dez mil coletores foram vítimas de ataques por cães em 2023. Em Guarapuava o cenário não é diferente. Apenas no mês de abril deste ano, quatro profissionais da limpeza pública foram atacados por animais domésticos. O problema também afeta carteiros, agentes comunitários de saúde e leituristas de luz e água.
Cortes e ferimentos são um perigo constantes para os coletores de resíduos. Os principais riscos destes ataques envolvem as Zoonoses, doenças que são transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para os animais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as zoonoses são responsáveis por cerca de 2,4 bilhões de casos de doenças e 2,2 milhões de mortes por ano no planeta.
Para além do perigo de ataques de animais domésticos, as consequências do descarte incorreto também podem ser graves, uma vez que os cortes por seringas, tubos de ensaio ou cacos de vidro infectados são um grande risco para a saúde dos coletores. Com o objetivo de evitar complicações ainda maiores, os funcionários de limpeza urbana do Município realizaram testes com luvas anti cortes, mas o material rigoroso reduziu a mobilidade, dificultando a coleta do lixo.
Segundo a coordenadora da coleta na SURG, Silvana Cândido, além dos cães que escapam quando o portão é aberto, a localização das lixeiras também é uma das causas dos ataques, já que muitas têm tamanho irregular e ficam próximas, quando não, dentro das residências com muros baixos. Enquanto recolhem as sacolas, os coletores são mordidos.
A coordenadora lembrou que a conscientização e colaboração dos moradores é fundamental para garantir que os funcionários de limpeza urbana tenham segurança no trabalho. “A coleta de lixo faz parte dos serviços essenciais na urbanização da cidade. É uma atividade fundamental na qual precisa ser investida e valorizada, senão a cidade vira calamidade pública, um lixão a céu aberto. Para que esse trabalho seja efetivado de fato, nós precisamos da cooperação dos habitantes, porque nossos coletores correm perigos, tanto em questão de vidros e agulhas descartados de forma errada como os ataques de cachorros, que vêm se tornando cada vez mais comuns”, sublinhou.
O coletor Jonas Coito foi um dos funcionários atacados no Bairro Trianon. O responsável pelo cão deixou o portão aberto e o animal mordeu a perna do profissional de limpeza. No impulso, o funcionário utilizou uma sacola para se defender, mas mesmo ferido, foi alvo de injúrias pelo morador. “Neste dia, o próprio dono do cão saiu de casa e me destratou por eu ter me defendido do cachorro, mesmo eu ainda com um ferimento. A gente sabe que o animal não tem culpa, aliás, ele faz isso por instinto, mas a questão é que o morador tinha que ter fechado o portão ou cuidado do seu cachorro, porque ele sabia que era horário da coleta de lixo. A população precisa entender o lado de quem está trabalhando, porque nós merecemos respeito e merecemos trabalhar em segurança”, destacou o profissional.
O caso de Jonas não é isolado. Emerson Luiz de Matos percorre as ruas de Guarapuava levando consigo as cicatrizes do ataque. “Bem na hora que eu fui coletar o lixo, o cachorro me mordeu. Eu senti muita dor, mas a culpa foi dos donos que não fecharam o cachorro em casa. Neste dia, o fiscal estava junto, então ele só chegou, orientou o pessoal e me levou para o hospital”, relembrou.
Com o objetivo de garantir melhores condições de segurança para funcionários dos correios, leituristas de água, gás e energia, coletores de resíduos e operadores ecológicos, agentes de saúde, entregadores de jornais, entre outros profissionais, a Lei nº 2850/2018 exige que os criadores ou responsáveis por cães abriguem seus animais e fixem uma placa indicando a existência de animal bravo em um local visível. A determinação ainda esclarece que os danos causados por cães são de responsabilidade de seus proprietários.
Em setembro de 2023, o cachorro da estudante Adriana Felizardo mordeu o braço de um coletor de lixo. O funcionário se feriu, mas a ocorrência fez com que a universitária repensasse a maneira que descarta seu lixo. “Na minha casa tem um portão grande, sem outra portinha, então a cestinha fica bem no alto. No dia, eu acredito que uma garrafa caiu para dentro e o coletor foi pegar, nisso ele colocou a mão para dentro mas ele não sabia que tinha cachorro, e eu nunca iria imaginar que aconteceria algo. Meu cachorro avançou nele mas felizmente só pegou na capa de chuva e não teve ferimentos maiores. Mesmo que meu cachorro seja bem tranquilo, depois disso, eu comprei uma placa para avisar que tinha animal ali e comecei a separar o lixo de maneira bem cuidadosa”, contou a estudante.
COMO EVITAR O ATAQUE
- Fechar o portão no horário da coleta de lixo;
- Fixar uma placa informando a existência de cão na residência;
- Instalar a lixeira fora da residência. A cesta dentro do pátio deixa o coletor vulnerável.
COMO FAZER O DESCARTE CORRETO
- Não deixar o lixo em lugares altos;
- Descartar materiais de vidro, pregos, parafusos, arames, lascas de madeiras, agulhas, seringas descartáveis, dentre outros. em um recipiente resistente como garrafas PET vazias, caixas de leite ou papelão;
- Enrolar cacos de vidros em jornais e colocá-los dentro de um recipiente, como caixas ou latinhas vazias;
- Não descartar materiais pontiagudos com o restante dos resíduos. O ideal é separar esses itens em um recipiente resistente.
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